sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Texto da sessão de 13/09/2023 da "A Velha Escrita"

Mais um pôr do sol de Setembro, mais uma tarde em que a fresca brisa anuncia o fim do Verão e a chegada do Outono. As ondas rebentavam na areia da praia, um som ritmado que embalava o silencio que o rodeava. A praia estava vazia, já ninguém se alongava nas horas, o dia era mais curto e a temperatura já não convidava a ficar mais um pouco, a ver o sol desaparecer lentamente atrás do horizonte. Naquele dia em particular, já nem isso tinha. Grandes nuvens brancas, como novelos de algodão tombados, cobriam a linha do fim do mundo, como ele chamava ao horizonte, e tapavam o fogo laranja com que o sol brindava os fins de dia de Verão.

 O Verão acabava, mas, como os dois anteriores, acabava inacabado, acabava sem o fim que outrora tiveram os Verões, o fim infindável que parecia que nunca seria o fim definitivo, e que agora apenas era o fim ausente, o fim que não era fim destes Verões incompletos.

 Agora despedia-se do Verão a sós, sentado na toalha para dois, apenas com um par de chinelos ao lado. Já não a tinha ali, como no fim de incontáveis outros Verões, que agora pareciam tão poucos, e os poucos que agora terminavam pareciam tantos. Apenas a memória de um sorriso era suficiente para o levar de volta ao lugar onde terminara o último Verão completo, onde, pela última vez, partilhara o pôr do sol ao som ritmado das ondas. “A vida continua”, diziam-lhe, e com razão, a vida continuava, sim, todos os dias, um por um, mas os Verões, esses, jamais voltariam a ser completos.

 

[Texto d' "A Velha Escrita" sob o tema "Verões incompletos"]


Texto do desafio da sessão de 06/05/2025 d'A Velha Escrita, com o tema "Quarto crescente"

  Movo-me levemente na poltrona. Esta parece moldar-se ao meu corpo. São muitos anos de uma amizade que nos une. Conhece todos os contornos...