ROUPA LAVADA E FIM DE TARDE
"A vida é dura, mas é boa". As palavras da avó enchiam-lhe a mente. Perdera a conta às vezes que a ouvira dizer esta curta frase. De pequena, apenas sorria quando o rosto enrugado e envelhecido da avó estava frente ao seu e lhe dizia, de quando em vez, "a vida, minha pequena, é dura, mas é boa". Desses tempos, o que recordava, o que lhe ficara impresso na mente como uma fotografia, era o brilho dos olhos dela, um sorriso tão verdadeiro, tão cheio de ternura e genuína felicidade, como ela nunca vira em mais ninguém. Na casa da avó, naquela aldeia perdida no monte, conhecera apenas a alegria de correr livremente, de ficar na varanda a ver o pôr-do-sol, de colher as flores silvestres e de, com elas, fazer coroas para brincar às princesas. Estava de volta, depois de tantos anos, depois da escola, da universidade, dos amores e desamores, do trabalho, dos filhos, dos dias que passam a correr. Reencontrava o sossego, a vida que passa devagar, o cheiro do campo e do monte