sábado, 3 de maio de 2025

Texto do desafio da sessão de 01/04/2025 d'A Velha Escrita, com o tema "Será desta?"

 

Primeiro olhou de longe. Admirou a estrutura, a perfeição das linhas, a imponência da sua altura, e as cores que a destacavam de tudo o que a rodeava. A engenharia necessária para a criar não deixava de o surpreender.

Manteve-se ali, de pé, debaixo do sol escaldante, seguindo, com o olhar, cada linha, cada curva, cada aresta, durante um tempo que, para ele, passou num ápice.

Inspirou fundo e tomou a decisão. Deu um primeiro passo, a medo. As pernas vacilavam um pouco, mas a determinação empurrava-o e dava outro. Aos poucos, lentamente, foi-se aproximando. Ignorou os olhares que acompanhavam a sua caminhada. Ignorou as cabeças que expressavam «não» num movimento horizontal, repetido, em circuito fechado. Ignorou tudo o que se passava à sua volta.

— Será desta? — Ouviu alguém questionar. Parou e procurou a voz, mas apenas encontrou rostos fechados. Não se deixou incomodar por aquele comentário. Novo passo, um recomeço. Passo seguinte. Determinação. Foco. Objectivo. Mais um passo. Mais próximo. Quase lá.

A estrutura agigantava-se à sua frente. Um colosso de metal e plástico. Imponente. Intimidante. «Será desta?». A pergunta ressurgia na sua mente. Seria? Tinha de ser. De tantas vezes que o tentara, esta seria, garantidamente, a definitiva.

Agarrou o metal escaldante. Ergueu o pé esquerdo e colocou-o sobre a primeira barra. Elevou o corpo sobre esse pé e assentou o direito na barra acima. O metal, exposto ao sol, queimava-lhe a planta dos pés. Manteve o foco. Ignorou aquele incómodo. Ignorou os olhares que se juntavam. Que acompanhava a sua ascensão. Uma a uma, pisou as barras de metal que o levavam mais acima. Mais alto. Ergueu-se sobre todo o resto e enfrentou o destino. Estava frente a frente com aquilo que o atormentara durante horas. Aquilo que tentara enfrentar uma e outra vez, sem sucesso. Mas agora estava ali, na boca do monstro. Enfrentava o derradeiro desafio. Deu um passo incerto e parou.

— Será desta? — alguém gritou, do meio da multidão.

Olhou para baixo. Um mar de cabeças estava virado para ele. Aguardavam. Impacientavam-se, mas não desistiam.

Enfrentou novamente o seu Némesis. Inspirou fundo.

— Acho que não — murmurou.

Deu meia-volta e, lentamente, começou a descer.

— Despacha-te — ouviu gritar —, aqui há quem queira usar o escorrega.

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