Texto da sessão de 06/03/2024 da "A Velha Escrita"
A noite estava agradável, a luz da cidade banhava as ruas, esburacadas, como era tradição. Felizmente, hoje o que o levava no trajeto era um par de sapatilhas e não quatro rodas condenadas a ter encontros imediatos do terceiro grau com os ditos buracos.
Esta incerteza que, a princípio, era apenas um pequeno ponto negro lá longe, nos confins da sua mente, começou a crescer. Escondera-se por trás da preocupação que se assomou ao consciente, por vias de uma consulta ao relógio.
“Raios! Estou a ficar atrasado.” Pensou. A caminhada teria de deixar de ser idílica para se tornar numa pequena corrida contra o tempo. Pequena porque não deixava de ser uma caminhada. Isso de correr ficara encalhado nos tempos de juventude.
O seu destino já se encontrava visível. Contava os passos até à porta. Os pensamentos enrolavam-se entre “Estou atrasado”, “17, 18, 19”, “Tenho a nítida sensação que me esqueci de alguma coisa”, “27, 28, 29”, e “Para que raio estou a contar? Pareço um puto”.
- Boa noite. – Cumprimentou todos, à chegada, após subir, não literariamente, uma eternidade de lanços de escadas. – Desculpem o atraso.
- Não te preocupes. – Responderam os outros. – Senta-te e escreve a tua proposta de tema para a tertúlia de hoje.
- Ó raios! – Exclamou. – É isso que me falta! E agora, que faço? Não tenho nenhum!
- Devias ter pensado nisso antes de sair de casa.
[Texto d' "A Velha
Escrita" sob o tema "Devias ter pensado nisso antes de sair de casa"]
Comentários
Enviar um comentário